Conta Gotas Lírico
sexta-feira, 1 de julho de 2016
Não cai nunca. Entre os corvos e o leão, pesam as feridas mas também a coroa, a poeira contra o movimento é o canto resistência das montanhas, a poeira contra o sangue é o beijo presente de pedra, eu não me curvo. Essa mulher não se curva. Meus antepassados vão comigo: a terra que me cura, os nossos guerreiros que vivem em mim e minha espada que é o meu aço contra a tua fome de morte. Essa mulher leoa a coroa carrega armada contra tudo, e caminha firme enquanto os corvos lhe querem carcaça deserto, ela é terra e fogo, essa mulher não cai. Não caio.
sexta-feira, 15 de maio de 2015
Gota para preti
ô coisa bonita... e a gente caçoava sem saber do muro em quem picharam "tudo é mágico até virar rotina" e passávamos pirilampicos com as nossas íntimas descobertas astronômico-maritmicas e do mundo que era um habitante nosso e as coisas todas gigantescas evaporadas e malucas delícias... O muro contudo é um muro e não passa, fica sempre la, e a gente com as nossas cobertas fomos pesando no caminho que é curto na verdade, o muro porém é impiedoso e muro, e a gente foi se arrastando pesados tropeçantes carregando o muro na cabeça, e no entanto o muro fica sempre la, o muro ta lá, e eu olho você e da vontade de chorar e morar no seu cabelo... e te beijar tanto tanto a boquinha, e mecher nos gominhos do seus dedos porque eu gosto de gominho e você fica com aflição, e cansar gostoso com você... que coisa bonita você... eu carrego qualquer muro inteiro pra te olhar... coisa bonita...
presente capitalista pro meu cérebro
talvez por ser tão prolixa a excitação é tão infinita que vem quase numa depressão... tantos milhares de bagulhos viajantes na mente, que querem ser pintados, cantados, costurados, gritados, cada um com seu pequeno e infinito planeta de excitação e medo e dúvida e vulcões, e tudo se multiplicando exponencialmente misturado com o mofo do banheiro, e a chuva que se vier molha a roupa do varal, e as demissões............ e a existência dos playboy, e a porra do problema na porra do celular, e o tempo... ridículo.. ridículo e estúpido e invisível e estreito minúsculo e insuficiente, ridículo e destruidor de qualquer infinito... e zilhões de explosões viajando num milésimo de segumdo murcham as sementes que queriam existir na minha cabeça...
sexta-feira, 21 de março de 2014
e eu me odiei confusa de querer te por gaiolas... que o mundo nos faz engolidores mas eu sei que você tem um monte de céu, todo mundo tem na verdade, tem um monte de mundo pra mundar... mas eu ainda tinha um pensamento desses que se penduram de que eu queria que você gostasse de mundar só um pouquinho. Eu me odiava de queimar gaiolas e te querer prender e de fechar os olhos pra fugir do tanto de coisa bonita que tem pra você voar... eu fechava com medo, medo que nem de criança... então eu resolvi ver que você é tão bonito porque você voa... é verdade que a menina chorou porque o sabiá fugiu da gaiola e foi cantar no abacateiro do jeito que ouvi minha vó cantando, mas com toda a vida só o que eu quero é um voo desembestado de todas as coisas, quero os passarinhos todos bagunceiros, quero mais é que as meninas prendedoras de sabiás chorem ou saiam voando também com os abacates, quero um furacão de borboletas, e braços, e coisas loucas e livres instaurando o caos na normalidade brilhante e redonda das gaiolas, e essas coisas todas que queimam nos teus olhinhos, porque você voa...
quarta-feira, 23 de outubro de 2013
As noites lhe viriam sombrias cortando as flores. Suores noturnos e viajantes marítimos lhe fariam lembrar. As gentes o ignoravam e ele não tinha o seu amor, não passava de reles mosca procurando vacas monumentais em que pousar. A existência lhe parecia um fio. E em verdade as agitações coloridas não passavam de sombras imaginárias, o ouro estava no fundo do poço, e ele tinha pedras pra rolar. Respirar era o que valia.
As pílulas e os aparelhos estavam longe... foi preciso ouvir o próprio pensamento... vender a alma ao diabo... a cabeça doía de suspender o corpo do trabalho e ouvir os penhascos e as aves que se jogam dele... e tudo estava tão cheio do plástico, do cimento, e fios e maravilhas reluzentes a se catalogar com números e regras e deveres que o espírito livre quer a morte, nem sabe mais pra onde voar.
segunda-feira, 2 de setembro de 2013
gotinha lispectórica (do conto amor)
Àquela hora o "anjo do lar" repousava semi-morto sobre os limpíssimos móveis... pairava esquecido sobre a janta ja feita... uma certeza insuspeita começava a ecoar no silêncio... parecia que a morte tilintava longe nas janelas apertando braços e corações... o ar e inquietava no espelho... uma presença incômoda se lhe marcava as pálpebras intranquilas às seis da tarde conforme ponteiros impiedosos que não arrastavam o tempo... não tinha farmácias à mão, o cabelo ja estava impecável... mas tudo passaria, os que encheriam a casa com seus deveres amabilíssimos trariam a tranquilidade de volta... a "hora da tarde" sempre doía e suspendia os tempos mas passava... passava sempre.
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