domingo, 25 de agosto de 2013

É aqui que eu morro. Em nenhum lugar que não esta casa morrerei. Se pudemos juntos levantar essas paredes que parecem organismos naturais entre essas árvores, se aqui fomos construindo a nós proprios na nossa Pasargada, se aqui eu nasci e morri nos teus braços, tantas vezes... se estas janelas me viram cair as folhas, amarelar... se nestas janelas oníricas vimos correr nossos corpos, nossos corpos no futuro, tanta vida, tanto mato, tanta água,  tanta coisa que viria... se nesta terra plantamos nosso sexo sob a lua, plantamos crias do nosso leite, voamos sementes bestas cansadas, plantamo-nos a nós mesmos dentro do nosso útero,  do nosso tronco, então também aqui eu plantarei meu corpo morto, aqui é que eu vivo.

domingo, 18 de agosto de 2013

tinha chegado a minha vez...

Tinha chegado a minha vez... todos se voltaram pra mim, esperando... Eu olhava o quadro negro, suando... Todas aquelas letras juntas....e aqueles olhos em mim.... Balbuciei qualquer coisa.... Riram e meus olhos estavam molhados, minha cara estava quente, eu olhei pra baixo... Não sabia o que fazer, eu queria sair e não voltar nunca mais... Quando eu vi, ela tinha se agachado ao meu lado, pôs suas mãos quentes sobre as minhas, eu a olhei ainda temendo, e ela me olhou com carinho, sorriu pra mim, ela disse que eu conseguiria e me falou a primeira letra, eu limpei meus olhos, sorri também, olhei pra frente com coragem, agora eu podia enfrentar todos os monstros, salvar todas as mães, entender todas as coisas do mundo e eu sabia uma palavra nova: vulcão... Vulcão! Tão bonito...

sábado, 17 de agosto de 2013

Quando ela me beijou eu soube que poderia amar mais de uma pessoa... ela tinha uns olhos que pousam na gente que nem borboleta que deixa a gente besta, girando tentando apreendê-la no nosso pobre olhar de mortal... ele tinha os olhos de fugir dos mundos e uma coisa doce e forte de criança que quer te salvar da morte... eu não tinha nada... tinha medo de cair na noite e vontades de beijar cem bocas... agora eu tenho um café que vai beber os meus delírios, mas meu peito permanece quente.

Minha mãe me embraçava toda

Minha mãe me embraçava toda de não soltar e assoprou no meu ouvido pra eu não me chegar perto dele. Ele riu uma risada bonita pra mim que nem fosse amigo meu que tem janelinha. Eu fiquei amiga dele no segredo. Minha mãe não explicava as coisas. Por que que a roupa dele era suja e as gentes ficavam dando dinheiro. Ela não explica... Uma hora foi uma velha, ele deu uma risada bem grande e jogou nela as moedas que ela deu. Eu ri também e apanhei um tapa. Daí veio um homem de cinza com cara feia que da medo na gente e empurrou ele no chão e gritava tão grande. O menino cuspiu bem direito no homem e correu saindo. Eu também queria cuspir em homem que joga menino descalço e sair correndo no mundo. Se a gente brincava, eu tenho certeza que o menino gostava do doce da vó.

Depois ela me disse que te amava...

Depois ela me disse que te amava como o Sol. Então eu guardei minhas flautas-tambores, rasguei as bandeiras, mandei os cravos embora e sorri. Porque os ônibus intermunicipais, as bactérias estreptocócicas, os programas dominicais, e os vendedores de pipoca se manteriam intacto-girantes nas suas inadiâncias. Você se manteve intacto. Só nós duas morríamos. E ela morria nas minhas pernas que são dela, e eu morria no escuro, cortando a minha carne pra abraça-la como se ela pudesse ser sua.

Agora ela era só o que não foi...

Agora ela era só o que não foi. E ela o maldissera, praguejara, vida desgraçada! Agora seu ventre pendia vazio e o sangue lhe escorria por entre as pernas. Toda a a vida seria o parto. Comeriam pouco, comeriam mal. Passariam fome, morreriam dela. Toda a vida seria o parto, mas não foi. Mas ela já começava a o querer tanto e começava a viver. Agora o amor só chovia n'outras pessoas de outro tempo-espaço... E ela que comera borboletas era agora comida por canhões e facas. Agora a mãe que nasceria traz a fome e a morte na espinha e escorre rubro viscosa pelo chão.

Mais uma vez eu te esperava...

Mais uma vez eu te esperava como se o esperasse a vida inteira, como se você viesse pra vida inteira. Mas você só vinha e eu chorava. E o mundo todo ressabia. Dentro dos teus olhos eu amava e morria sufocada de doer em gotas. E eu te amava tanto e sozinha. Na volta eu doía contra o vento, com a minha certeza partida. E naquele abraço curto eu tive o pássaro que me fugia pra lonjuras de rasgar céus e sombras como eu.